No coração da Baixada Fluminense, um movimento silencioso e transformador começa a ganhar corpo e reconhecimento. Nova Iguaçu, cidade marcada por sua força popular e sua história muitas vezes negligenciada, vive agora um momento de virada inédito: políticas públicas voltadas à preservação do patrimônio e ao fortalecimento da museologia estão sendo implementadas com um fôlego que há muito não se via na região.
A iniciativa vai além da simples conservação de prédios ou da criação de acervos expositivos. Trata-se de um plano estratégico que busca reconectar o município com sua memória, sua identidade e seu papel no contexto histórico fluminense e nacional. Essa revalorização do passado não é apenas um resgate simbólico, mas um instrumento concreto de transformação social, educativa e até mesmo econômica.
Durante anos, Nova Iguaçu conviveu com o apagamento sistemático de sua contribuição para a cultura do Estado do Rio. Ruínas esquecidas, arquivos desorganizados, personagens históricos pouco celebrados. Agora, essa maré começa a virar com a criação de políticas de museologia territorial e de proteção do patrimônio que se estruturam de maneira articulada, democrática e integrada com a população local.
Entre os destaques dessa nova fase estão os esforços para catalogar, preservar e dar visibilidade a bens históricos da cidade, incluindo construções centenárias, igrejas, casarões, praças e áreas de valor simbólico e arqueológico. A proposta não se limita a proteger estruturas físicas, mas também valoriza as expressões culturais imateriais, como festas populares, saberes tradicionais e manifestações artísticas regionais.
A criação de espaços museológicos também ganha protagonismo nesse cenário. Museus comunitários e centros de memória estão sendo planejados ou revitalizados para abrigar exposições, promover oficinas e oferecer atividades educativas voltadas especialmente para as escolas públicas da região. A intenção é clara: fazer com que o iguaçuano reconheça, desde cedo, a riqueza do solo em que pisa.
Outro aspecto fundamental é a descentralização. Diferentemente de ações pontuais concentradas no centro urbano, essas políticas buscam atingir bairros periféricos e áreas rurais, onde muitos vestígios da história permanecem vivos, mas ainda invisibilizados. Com isso, a gestão pública sinaliza que a cultura não é um luxo elitizado, mas um direito de todos.
O impacto dessa transformação já começa a ser sentido. A movimentação em torno dos bens culturais estimula o turismo, atrai pesquisadores, envolve artistas e fortalece o comércio local. Mais do que isso, promove autoestima, pertencimento e orgulho — combustíveis indispensáveis para qualquer cidade que deseja crescer com raízes firmes.
Nova Iguaçu dá, assim, um passo histórico. Ao olhar para trás com respeito e cuidado, a cidade projeta um futuro mais justo, diverso e vibrante. A Baixada Fluminense, tantas vezes retratada por suas carências, começa a ser também reconhecida por sua riqueza cultural — e, sobretudo, por sua capacidade de se reinventar.