Dirigida por Diogo Liberano, “Mansa” está em cartaz na Cia. dos Atores até 30 de julho

Read Time:5 Minute, 33 Second

 

 Texto original de André Felipe investiga a origem da violência contra a mulher a partir de um crime cometido por duas irmãs

 

Foto de Diogo Liberano

As atrizes Amanda Mirásci e Nina Frosi interpretam diferentes personagens em encenação fragmentada

Com dramaturgia de André Felipe e direção de Diogo Liberano, o espetáculo “Mansa” traz Amanda Mirásci e Nina Frosi nos papéis de duas irmãs que, após anos de abuso em cárcere privado, matam o pai e enterram seu corpo nos fundos da casa. Mais do que apresentar um mero crime, a peça busca revelar a origem da violência contra a mulher. Em cena, apenas os personagens masculinos têm voz: eles observam o drama das irmãs por diferentes ângulos, colocando em questão o processo de “amansamento” feminino. A montagem chama atenção para os inúmeros crimes praticados contra as mulheres que não recebem a devida punição, naturalizando a violência na sociedade contemporânea. “Mansa” estreou no festival Cena Brasil Internacional e, está em sua primeira temporada, entre de 16 de junho e 30 de julho, na Sede da Cia. dos Atores, na Sala Bel Garcia, na Lapa.

A dramaturgia é construída por meio de fragmentos que se estendem por vários tempos, desde a infância das duas irmãs, passando pela adolescência, até o ato do crime e os momentos posteriores: julgamento, prisão e futuro. Amanda e Nina interpretam diferentes personagens (todos masculinos) e, como detetives ou arqueólogas, cavam os indícios deixados na terra e perdidos no tempo. O terreno onde o corpo do pai foi enterrado é o espaço que une as cenas passadas, presentes e futuras, ganhando contornos que extrapolam uma única narrativa.

A encenação assinada por Diogo Liberano buscou construir, junto à direção de movimento de Natássia Vello, uma dramaturgia corporal que apresenta diversos momentos da vida dessas irmãs. Por meio de uma relação de encaixe e desencaixe, a dramaturgia se relaciona com tais movimentos buscando abrir perguntas sobre os fatos narrados pelos personagens masculinos e a realidade vivida e sentida pelas mulheres que foram emudecidas. A trilha sonora original de Rodrigo Marçal, o cenário e os figurinos de André Vechi e a iluminação de Livs Ataíde visam, de modos variados, encontrar e completar uma história que foi esquecida e silenciada.

Convidado para escrever “Mansa”, o autor André Felipe partiu de referências sugeridas pelo diretor e pelas atrizes para criar a dramaturgia original. Uma das origens da investigação foi o clássico “Antígona”, de Sófocles. “A relação das irmãs Antígona e Ismênia e o embate que elas vivem: uma querendo tomar uma decisão que desafiaria o Estado e causaria a própria morte e a outra amedrontada”, comenta Liberano sobre o processo de pesquisa que também incluiu estudos e filmes sobre penitenciárias e instituições de confinamento. “Tínhamos o desejo de falar do confinamento e da instituição prisão modelando e domesticando o corpo da mulher”. O nome do espetáculo foi uma sugestão do dramaturgo a partir do poema “Uma mulher limpa”, do livro “Um Útero é do Tamanho de Um Punho”, da escritora Angélica Freitas.

André Felipe (autor)

É dramaturgo, ator e diretor teatral. Escreveu e dirigiu as peças “À Distância” (Prêmio Myriam Muniz – 2012), “Sem Horas” em parceria com Vinicius Coelho (Prêmio Funarte Artes na Rua – 2013) e desenvolveu com Gustavo Colombini a residência e performance “La Comunicación Humana” (Festival Latino-americano de Teatro de Santiago – 2016) e a ação Reunião de Condomínio (Museu do Louvre Pau-Brazyl –  2016) com o grupo Cinza. É autor das peças “Ensaios Para o Fim do Mundo” (Bullshit México e Teatro Pradillo de Madri – 2017), “Perdendo Tempo (Prêmio Elisabete Anderle – 2015), “Poses Para Não Esquecer” (Festival de Girona – 2016), entre outras.

Atualmente é doutorando em Artes Cênicas da Universidade de São Paulo (ECA/USP) e mestre em Dramaturgia pela Universidade Nacional del Arte (UNA) de Buenos Aires. Integra A Ursa de Araque, grupo de Florianópolis fundado em 2007, e colabora com o grupo Cinza, de São Paulo. Recebeu os prêmios de dramaturgia “Seleção Brasil em Cena”, em 2013 e “Prêmio Rogério Sganzerla de Roteiros de Cinema e Teatro”, em 2012. Coordenou diversas oficinas de escrita no Brasil, Argentina e Chile.

Diogo Liberano (diretor)

É graduado em Artes Cênicas – Direção Teatral pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em Performance e Teatro pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena (PPGAC/UFRJ) e doutorando em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. É professor da Faculdade CAL de Artes Cênicas, dramaturgo-coordenador do Núcleo de Dramaturgia SESI Rio de Janeiro e diretor artístico e de produção da companhia Teatro Inominável, criadora de “Não Dois”, “Vazio é o Que Não Falta, Miranda”, “Como Cavalgar um Dragão”, “Sinfonia Sonho”, “Concreto Armado”, “O Narrador”, “poderosa vida não orgânica que escapa” e “Nada brilha sem o sentido da participação”.

Junto à companhia, assina a curadoria e a direção artística da Mostra Hífen de Pesquisa-Cena desde 2012. Por seu trabalho, foi indicado aos principais prêmios de teatro do Rio: Prêmio Shell (em 2015, pela dramaturgia de “O Narrador” e, em 2016, pela de “Os Sonhadores”), Cesgranrio (em 2015, pela dramaturgia de “O Narrador” e pela direção de “A Santa Joana dos Matadouros”, junto com Marina Vianna e, em 2016, pela dramaturgia de “Os Sonhadores”), APTR (em 2013, pela dramaturgia de “Maravilhoso”) e Questão de Crítica (em 2012, pela direção de “Sinfonia Sonho” e pela curadoria da primeira edição da Mostra Hífen).

O poema “Uma mulher limpa”, de Angélica Freitas:

porque uma mulher boa

é uma mulher limpa

e se ela é uma mulher limpa

ela é uma mulher boa

 

há milhões, milhões de anos

pôs-se sobre duas patas

a mulher era braba e suja

braba e suja e ladrava

 porque uma mulher braba

não é uma mulher boa

e uma mulher boa

é uma mulher limpa

 

há milhões, milhões de anos

pôs-se sobre duas patas

não ladra mais, é mansa

é mansa e boa e limpa

  • EQUIPE DE CRIAÇÃO
  •  
  • Assistência de Direção: Marcéli Torquato
  • Atuação: Amanda Mirásci e Nina Frosi
  • Cenografia e figurino: André Vechi
  • Design Gráfico: Ale Pessôa
  • Direção de Movimento: Natássia Vello
  • Direção de Produção: Carla Mullulo
  • Direção Musical: Rodrigo Marçal
  • Direção: Diogo Liberano
  • Dramaturgia: André Felipe
  • Iluminação: Livs Ataíde
  • Mídias Sociais: Teo Pasquini
  • Registro Fotográfico: Thaís Barros
  • Tradução para o Inglês: Lucas Moretzsohn
  • SERVIÇO

     

    Espetáculo: “Mansa”

    Temporada: 16 de junho a 30 de julho de 2018

    Local: Sede da Cia. dos Atores – Sala Bel Garcia

    Endereço: Rua Manoel Carneiro, 12 – Escadaria Selarón, Lapa

    Telefone: (21) 2137-1271

    Lotação: 20 lugares

    Dias e horários: De sábado a segunda, às 20h.

    Ingressos: R$ 30 e R$ 15

    Duração: 1h10min.

    Classificação indicativa: 16 anos

    Gênero: Drama

 

Happy
Happy
0 %
Sad
Sad
0 %
Excited
Excited
0 %
Sleepy
Sleepy
0 %
Angry
Angry
0 %
Surprise
Surprise
0 %
Previous post Escritor carioca que reúne imortais da Academia Brasileira de Letras em saraus públicos de poesia,  Paulo Sabino lança livro em 26 de julho, na FLIP
Next post Hilda Hilst pede contato tem première mundial na Flip
Close